A menina que tinha asas

DaniAsasEra uma vez uma menina que nasceu com asas.

De pequena ela não se achava diferente, nem ligava para o pequeno atributo que brotava de suas costas.

Ela vivia rodeada de amigos, pois as outras crianças ainda não haviam adquirido os preconceitos de seus pais. Para elas, ela não era diferente, era apenas uma outra criança com algo a mais.

E ela? Ela não se via como uma menina com asas, mas sim uma menina de ‘ouvidos’ (rs) – todos a procuravam para desabafar, seu ‘ombro amigo’ era fato. As vezes ela não entendia porque alguém que acabara de conhecer, lhe contava sua vida quase inteira.

Ela não entendia a ‘religião’ só entendia Deus – mas tudo bem, sabia que era tudo o que ela precisava (o fato dos outros se incomodarem com isso, ainda não tinha consequências).

Tinha tanto amor pra dar, que seus olhos brilhavam mais do que deviam.

Alguns diziam: “É bom estar perto de você, já estou mais calmo. Você tem algo de especial que eu não sei o que é”-  ela sorria por dentro e se sentia imensamente feliz. Ela era leve.

Obstinada e destemida se destacava em tudo que fazia, mas ao mesmo tempo percebia a vontade que os outros tinham de fazer o mesmo…
Passou a se concentrar nas dificuldades alheias e tentou saná-las…mas ninguém aceitou isso de bom grado. Mesmo com humildade, não conseguia ensinar tudo o que aprendia, as pessoas não se mostravam gratas, mas sim agredidas.
E foi essa a primeira vez que ela simplismente não entendeu nada. A primeira vez que o pássaro se sentiu um peixe fora d’agua…

E assim essa menina começou a crescer. De repente, todo seu mundo ficou do tamanho de uma caixa de sapato.
Até aí tinha sido fácil, para ser feliz bastava respirar.

Ela acreditava que se cuidasse dos outros como gostaria de ser cuidada, estaria tudo bem – ela receberia o mesmo carinho. Merecimento? Não: troca.
Ela achava que se você agisse com retidão e bondade o mundo lhe retribuiria da mesma forma – até então era tudo que Deus havia pedido a ela.

Mas a cada dia, o mundo lhe dava um soco.
Aqueles que agora já não eram crianças, passaram a ridicularizar as suas asas. O que era o seu maior bem (dádiva), agora era sinônimo de  ‘aberração’
A doce menina de asas, agora era vista como a ‘tola menina que estava fadada a voar sozinha’.
Uma pobre menina de asas que vivia em um mundo cor-de-rosa.
Pela primeira vez na vida, ela sentiu o peso de suas asas.

Ela percebeu que aquele vôo que a deixava mais perto do céu, era o mesmo que deixava os seus pés sem apoio (sem chão). E foi ao perceber isso que ela caiu.
O tombo foi tão assustador e dolorido que ela jurou que não voaria nunca mais.

Passou a andar, mas sempre cabisbaixa – era muito difícil olhar para o céu e não desejar tocá-lo.
O tempo foi passando e de tanto andar e cada vez mais apressada, acabou se esquecendo da sua paixão pelo vento, pelas nuvens, pelo céu.

A menina ingênua tornou-se um adulto forte. Continuou ingênua, pois tornar-se malandra era contra os seus princípios, certas coisas ela nunca quis aprender.

Mais experiente, as agressões doiam mas machucavam cada vez menos.  Ainda era impossível evitar os golpes, sua essência de pássaro não percebia a maldade – não até ela ser jogada na sua cara!
Mas aí já era tarde demais para reverter a situação.

De tanto se decepcionar perdeu a fé na maioria das pessoas. Tornou-se agressiva, e as pessoas passaram a respeitá-la por isso. Mas esse não era o ‘respeito’ que ela buscava, ela queria um respeito digno (conquistado, reconhecido), e não esse ‘respeito’ imposto goela abaixo.

E mesmo rodeada de cinza e de pedras, ainda ouvia dos outros que ela era ingênua, uma tôla em um mundo-cor-de-rosa. Rosa? O mundo daquela menina quase nem tinha cor, e as poucas nuances que sobraram, estavam desaparecendo pouco a pouco.

A única cor que ela reconhecia nitidamente era a cor do mar.
Aquele azul era o único lugar que ela chamava de lar.
O único lugar onde ela se atrevia a olhar o céu, porque aquele céu não tinha chão.
Onde acabava o céu, começava o mar.

E só lá ela se sentia segura. Ali ela estava livre das cruéis lições que havia aprendido no chão, livre dos dogmas daquele mundo cinza.
Nesse seu ‘mundo a parte’, ela não, mas sua alma ainda voava.

Ela só queria ir pra casa, mas não tinha a menor idéia de onde isso ficava.
Mesmo rodeada de pessoas e cheia de atenção, se sentia a pessoa mais só.
Ela estava onde o mundo julgava ser o lugar das pessoas bem sucedidas, mas ela não se encaixava.
Mesmo com a coluna ereta e os pés firmes, cravados no chão, não havia raiz, não havia nada que a segurasse ali.

E agora garota estúpida de asas? Conquistou tudo o que queria e continua sem nada. Agora que descobriu que não há nada nesse mundo que você queira, vai lutar pelo quê?

Ela sentou – seu corpo sentou, mas sua alma se esparramou pelo assoalho até sumir do chão, que continuou seco como se nada tivesse passado por ali.
Ela vivia um dia de cada vez. As vezes acordava carente pedindo colo, outras vezes pulava da cama pronta pra vencer o mundo, mas as batalhas que vencia, sempre pareciam pequenas demais.
Mesmo assim, ela não ficava parada, não veio nesse mundo a passeio!
Ela só não percebeu que a cada passo que dava, mais ela se curvava (seus  olhos cada vez mais voltados para o chão).

Um dia ao respirar bem fundo, percebeu-se deitada.
O chão lhe sustentava todo o corpo. Seus pés, pernas, tronco, braços, as palmas das mãos, um lado da face…sentindo o toque duro e frio do chão.
Foi então que ela gritou:

_ Mundo! Você quer mais o quê? Que droga de mundo você pensa que é?
Você é feio e sujo, e as pessoas que vivem aqui são amargas e conformadas. Só reclamam e não lutam pra mudar nada.
Os sacanas são ‘os espertos’ e os inocentes são ‘os idiotas’, tratados como verdadeiros palhaços. Quer saber? Eu me orgulho por não me encaixar! Agora me deixe, eu não tenho mais nada pra lhe dar.

Ela fechou os olhos e ficou quieta. Naquele momento essa era a sua única referência de ‘paz’.
Veio uma leve brisa. E depois outra nem tão leve.

A terceira lhe moveu a  sua única parte que nunca havia conhecido o chão. Algumas penas de uma de suas asas se moveram levemente.
Aquele arrepio lhe lembrou de quem ela era antes de crescer. E ela mergulhou em um sonho melancólico, cheio de lembranças do tempo em que ela era apenas uma doce menina e não uma adulta vazia.

Ela lembrou…do vôo.
Da sensação de liberdade e dos pés longe do chão.
Nesse segundo, a falta de raízes não a incomodou; aliás ganhou outro significado: liberdade.
Sem raça, sem pátria, sem crença, sem dogmas, sem grupo, time ou partido.

Ela não era Deus, jamais conseguiria mudar o mundo – ela tinha de aceitá-lo.
Não, ela nem sempre colheria o que plantou, porque algumas pessoas, nunca voaram (o panorama é bem diferente lá de cima, e quem não vê o cenário todo, jamais entenderá seu real significado).

Ela finalmente abaixou a guarda e depôs suas armas (nos defendemos do que mais precisamos: humanos).
Ninguém é de todo mal ou bom, agimos de acordo com nossa cegueira e miopia (a sua verdade é aquela que você vê).
Ela entendeu que as vezes, você machuca porque não aceita ter sido ferido. Afasta, porque em algum momento quis e não pôde estar perto. Que por mais que seja errado mentir, existem pessoas que mentem para evitar a dor no outro, ou em si mesmo.
Que pessoas dígnas também erram, e que algumas pessoas realmente aprendem com seu erros.

Ela suspirou como suspira aquele que tira um peso enorme de suas costas.
Abriu os olhos e percebeu que estava voando.
E foi como se ela voasse pela primeira vez.
Ela teve que ir ao chão para aprender e compreender, para valorizar só o que realmente era de valor.

Quem era o tolo agora?
Quem erra? O que comete o mal, ou aquele que não o percebe?
Quem deve mudar?
Espero que você prefira sofrer o mal, que fazê-lo…

Ela nunca havia sido uma princesa em um conto-de-fadas. Ela era e é, apenas uma menina com asas.


  1. Alexandre says:

    ai bando de babaca qpaga pau pras parricinha filhas de politico corrupto e prus boyzinho cria de empresario sonegador ou ladrao.
    Ta na hora da gente valorizar a pessoa e nao bolso mesmo porque tem muito sacana e vagabunda se dando bem nesse mundinho aqui.

    Preserve as suas asas menina lindaaaaa!!!!!!!!!

  2. paloma says:

    a menina que tinha asas

  3. Márcio Gadoti Cardoso says:

    Lindo post ! Li aqui coisas que precisava ler. Neste momento que estou vivendo este tipo de texto me faz crescer e entender que nem só de “umbigo” podemos viver, existe um mundo lá fora !
    Também já conheci uma menina de asas, é a pessoa que mais amo nesse mundo !

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  5. Edvoddy J. says:

    post muito lindo!! A- M – E – I essa história!!!!
    agora, sempre pensarei na menina que tinha asas. Muito inspiradora.Emocionante.Parabéns!!!

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