A Evolução da comunicação impactada pela Tecnologia -I
Como ‘sei lá’ quando terei tempo de me dedicar a publicação no CAPES, compartilho aqui o meu Artigo Científico da PG em Design e Tecnologia Digital da FAAP: ‘Estudos sobre a evolução da Comunicação impactada pela Tecnologia sob uma visão Antropológica. A Web 2.0 e as mudanças nas relações humanas geradas por esse paradigma’.
Terei que dividi-lo em alguns posts…
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Daniella Velloso|1|
FAAP – Fundação Armando Álvares Penteado – Pós-Graduação em Design e Tecnologia Digital -São Paulo, 2009.
Agradeço aos Prof.Thiago da Costa e Silva e Prof.Dr.Caio Adorno Vassão.
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[Proposição dos problemas]
1º
Não escrevemos mais cartas e diários pessoais. Temos cada vez mais meios e formas de nos comunicar, mas mesmo assim, nos comunicamos cada vez menos. Criamos ‘dialetos’ que são ‘resumos’ e ‘signos’ de palavras e significados, textos curtos que informam com pouca ou quase nenhuma emoção. Trocamos informação, mas fazemos contato intelectual?
2º
A presença digital (sem fronteiras), faz com que as pessoas estejam em qualquer lugar, interagindo com o que for. Em contra-partida, o preço por absorver informação é prover informação, ou seja: exposição versus privacidade, reputação on-line versus reputação off-line.
Essas divisões existem? Você está na rede ou existe na rede?
3º
A Cybercultura, dita que o que você compartilha (produz), é proporcional a quanto você vale. O seu conhecimento o define e não seu sobrenome, diploma, cargo ou tempo de experiência. Os meios de comunicação são os responsáveis por essa mudança nos valores de nossa sociedade, que até hoje foram absurdamente positivos. Mas agora que esta se tornou autônoma, até onde ela poderá nos levar?
4º
Os dispositivos midiáticos e a abundância e diversidade em consumo de mídia participativa, geraram mudanças nas relações interpessoais. O que nos incita a rever conceitos como privado versus público, público versus comercial, profissional versus amador.
Vivemos a transformação do status do objeto cultural e sua re-significação social.
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ATUALIDADE - Nossos atos falam por nós.
Segundo Lemos (2004) a técnica era fonte de sobrevivência e compreensão do mundo numa concepção que imitava a natureza|2|.
Ao observar a natureza, o homem criou ferramentas que o ajudavam a executar o que seu corpo não conseguia, como a faca e a lança, criadas a partir da observação das feras caçando (era a versão do homem de garras e presas).
Uma tecnologia que alterou a forma dele se alimentar, assim como a invenção da roda alterou seu modo de locomoção. Ou seja, a tecnologia o ajudou a alterar seu espaço físico e consequentemente a interação dele com esse espaço.
A luta para sobreviver fez o homem superar diversas ameaças, e desde a pré-historia ele faz uso da tecnologia para enfrentar adversidades.
E o homem continuou evoluindo – a cada necessidade suprida sua curiosidade e expectativas aumentavam.
Até meados de 1437, a comunicação limitava-se a influência da voz humana e as primeiras formas de material escrito, na madeira, no papiro, na seda e no pergaminho.
Graças ao alemão Johannes Gutemberg, ourives da cidade de Mainz, a sociedade pôde desfrutar de seu primeiro grande meio de comunicação: a tipografia (do grego typos – “forma” e graphein – “escrita”).
A partir dela, padrões puderam ser replicados – regras, moeda e aprendizado, o que influenciou as interações sociais.
Para argumentar o ponto de vista defendido por esse estudo, cito de forma muito sutil a situação sócio-econômica decorrente na época.
Produtos eram negociados em maior quantidade entre colônias cada vez mais distantes (colônias espalhadas pelo mundo), um momento de grande desenvolvimento do comércio em volume e alcance. Em função disso, surgia a necessidade de se documentar processos administrativos e financeiros cada vez mais complexos.
Estes sistemas comerciais mais complexos e o número de pessoas necessárias para esse funcionamento, produziu um volume tão grande de burocracias e procedimentos comerciais, politicos e até religiosos, que foi necessário criar um sistema mais ágil de prover material documental (escrito), por intermédio do qual o ‘modus operandi’ pudesse ser replicado ou disseminado em maior escala e com maior rapidez.
“Durante séculos, os monges copistas garantiram a manutenção e a reprodução dos textos sagrados, mas o mundo secular emergente criou a sua própria versão de copista, o amanuense profissional. Os novos scriptoria ou lojas de escrita que surgiram, empregariam virtualmente qualquer clérigo letrado que procurasse trabalho” (Apontamentos sobre a história e desenvolvimento da impressão, Jorge Bacelar, Universidade da Beira Interior, Maio 1999). |3|
O mercado das indulgências (cartas oficiais da Igreja que concediam o perdão a pecados cometidos em troca de bens materiais à Igreja), também era promissor (cerca de 200.000 mil dessas cartas foram produzidas). O fato de a tarefa ser restrita aos monges copistas, tornava essa produção morosa e cara.
Gutemberg percebeu isso e vislumbrou um cenário lucrativo. Ele buscou desenvolver uma “máquina onde seria implicado algum tipo de força que teria o poder de aumentar a rapidez e a energia dessa tarefa” (O Homem e as Máquinas, Lúcia Santaella) |4|, ou seja, a replicação de documentos.
Ele adquiriu um empréstimo e começou a trabalhar no desenvolvimento da tecnologia que deu origem a imprensa, com isso, proporcionou a preservação e a divulgação em larga escala do conhecimento humano, até então limitado a um número restrito de privilegiados. Foi ele quem imprimiu a primeira Bíblia.
“Cada letra era gravada no topo de um punção de aço que era posteriormente martelado sobre um bloco de cobre. Essa impressão em cobre era inserida num molde, e uma liga de chumbo, antimónio e bismuto era aí vertida, originando uma imagem invertida da letra que era então montada numa base de chumbo. A largura dessa base variava com a dimensão da letra (por exemplo, a base da letra i não chegaria a metade da largura da base da letra w). Esta característica permitiu enfatizar o impacto visual das palavras e dos conjuntos de palavras, evitando o efeito individualizador das letras, característico do monoespacejamento” (Apontamentos sobre a história e desenvolvimento da impressão, Jorge Bacelar, Universidade da Beira Interior, Maio 1999). |3|
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Marco 1: Origem da comunicação de massas: a imprensa de caracteres móveis
Enquanto o comercio e a modernidade tecnológica aumentavam a influência da teologia cristã diminuia.
Mas a religião ainda dominava todas as formas de experiência: alética (do grego “aleteia” – verdade), ética e a estética. Ou seja, a Igreja estabelecia seu senso de certo e errado, de feio e belo, de acordo com seus interesses econômico-financeiros. Seu caráter estadista definia e ditava.
A invenção da imprensa de caracteres móveis é considerada a origem da comunicação de massas, por constituir o primeiro método viável de disseminação de ideias e de informação a partir de uma única fonte. Nesse intermeio, as ideias eram impostas, os valores implantados gradativamente de acordo com os interesses da Igreja e de alguns influentes (membros de famílias ricas e politicos). A produção era dispendiosa e centralizada, o que nos levava a ter como opção produtos caros e escassos.
Até o início do século 19, as redes de comunicação limitavam-se a guetos sociais e profissionais, graças a esta plataforma unilateral a informação era sinônimo de poder. A imprensa foi o primeiro passo, mesmo que singelo, que vislumbrou mudar isso.
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Esse cenário muda com a Revolução industrial.
As máquinas a vapor desenvolvidas por Thomas Newcomen e aprimoradas por James Watt, as eletromecânicas de Michael Faraday, as de motor a gás de Etienne Lenoir e outras, maravilharam nossos antepassados por substituir a força física do homem. “A energia da máquina foi posta a serviço dos músculos humanos, livrando-os dos desgastes” (Schaff,1991)|5|.
Estas máquinas replicaram a capacidade de produção tornando ricos uma pequena parcela de empreendedores. Essa dinâmica social foi e é até hoje, extremamente lucrativa para as empresas que comercializam bens, mas em contra-partida, temos a expropriação autorizada da cidadania, ou seja, a pessoa humana passa a ser um ‘‘recurso humano’’.
Quanto mais as tecnologias ‘inteligentes’ evoluírem, menos valor terá a pessoa humana (menos importância no funciograma de produção).
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O capitalismo torna-se o sistema econômico vigente.
Para a manutenção da produtividade (para operar estas máquinas), foi necessária a formação técnica dos profissionais diretamente envolvidos com a produção. A formação do trabalhador visava atender os requisitos de operação das máquinas. Ou seja, as máquinas que foram criadas para atender o homem, tornaram-se o objeto a ser atendido.
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Marco 2: A partir da metade do século XIX, surgem as primeiras grandes inovações midiáticas: o telégrafo eletrônico, o rádio, o telefone e o cinema.
O rádio alterou a forma das estórias noticiosas com o advento do sonoro, bem como a televisão, com a imagem fílmica, provocou mudanças drásticas na programação do rádio e na forma das radionovelas. (MCLuhan, 1974, p.72).|6|
_ Daniella onde está a sua mãe?
_ Ela está no telefone.
Literalmente. Quando usávamos o aparelho estávamos limitados a àrea de alcance do fio que saia da parede e chegava ao telefone, restritos a este espaço e ao cômodo onde o aparelho estava instalado.
Ao longo do tempo buscamos nos libertar instalando vários aparelhos pela casa e isso foi suficiente até desfrutarmos da mobilidade dos telefones sem fio e depois dos celulares.
Fomos ganhando espaço. Deixamos de defini-los pelas atividades realizadas nele – casa, trabalho, entretenimento.
Hoje com a conectividade portátil o objeto espaço é relativo.
Isso prova que as inovações tecnológicas são resposta às reais necessidades humanas previamente estabelecidas pelo uso das próprias inovações anteriores, em um contexto social em contínua evolução.
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Marco 3: No Século XX, as mídias de massa: rádio, cinema e televisão, vivem um momento sem precedentes – a Globalização.
Com os mercados internos saturados, empresas multinacionais precisaram buscar novos mercados consumidores.
Para oferecerem preços mais competitivos e estabelecerem contatos comerciais de forma rápida e eficiente, foi necessário investir em recursos tecnológicos (comunicação via satélite, internet, redes de computadores).
Para demonstrar a complexibilidade envolvida, usaremos um produto como exemplo: o tenis.
O tênis Nike que é comercializado em diversos países é projetado nos EUA e fabricado na China com matéria prima brasileira – imaginem a logística disto.
Isso é Outsourcing (‘Out’ significa ‘fora’ e ’source’ ou ’sourcing’ significa fonte)7.
Como citado anteriormente, esse processo promove a expropriação autorizada da cidadania – a pessoa humana passa a ser um ‘‘recurso humano’’, e aquele ditado “Sempre que uma máquina quebrar será preciso um humano para concertá-la”; não leva em consideração que o salário de um assistente técnico é imensamente menor do que o de um gestor por exemplo.
Outra disparidade exemplificada neste processo é o fato de Michael Jordan já ter recebido da Nike (a título de royalty), uma quantia superior ao trabalho de 22 mil funcionários asiáticos, responsáveis pela produção destes produtos.
A tecnologia evolui constantemente para que ‘certos homens’ possam potencializar sua ação no mundo, mas as potencialidades da tecnologia criada, ao longo do tempo se tornarão ativos públicos da humanidade.
A tecnologia conecta pessoas e disponibiliza conhecimento, mas também exclui (superespecialização disciplinar e descarte de ativos).
Foi nesse cenário, que assistimos a fusão das telecomunicações analógicas com a informática, de onde inclusive se originou a revolução digital.
Concordo com o Cientista-chefe do CESAR – Centro de Estudos e Sistemas Avançados do Recife, Silvio Meira, que afirma que “a revolução digital é para as pessoas, o que a revolução industrial foi para as empresas” |8|.
“A tecnologia e sua configuração em sistemas tecnológicos, potencializaram o sistema capitalista para a plena realização de sua vocação expansionista, pois a velocidade dos fluxos de informação e transações ultrapassa as expectativas de um comércio globalizado” (Rifkins, 2001) |9|.
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Marco 4: internet
fica para o próximo post…
PARTE II – Publicada em 13.Ago.10
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BIBLIOGRAFIA
(neste post, itens 1 ao 9)
[2] LEMOS, André. Cibercultura, tecnologia e vida social na cultura contemporânea. Porto Alegre: Sulina – 2ª ed. 2004.
[3] BACELAR, Jorge. Estudo sobre Apontamentos sobre a história e desenvolvimento da impressão. Universidade da Beira Interior. Data Maio 1999. Disponível em http://bocc.ubi.pt/pag/bacelar_apontamentos.html
[4] SANTAELLA, Lúcia. O homem e as máquinas. In: Diana Domingues (org.). A arte no século XXI: A humanização das tecnologias. São Paulo: UNESP, 1997, p.33-34.
[5] SCHAFF, A. A sociedade informática. Trad. Carlos E. J. Machado e Luiz Obojes. São Paulo: Brasiliense, Editora UNESP, 1985.
[6] McLUHAN, Marshall. A Galáxia de Gutenberg. São Paulo: Cultrix, 1967
McLUHAN, Marshall. Os meios de comunicação como extensão do homem. São Paulo: Cultrix, 1967.
[7] JORNAL FOLHA DE SÃO PAULO, Artigos: Exportando empregos por Rubens Ricupero. Data 22/02/04. Disponível em http://www.rubensricupero.com/artigos/2004/folha_2004_22_02.htm
[8] MEIRA,Silvio. Release de cobertura do Evento “Converência em Debate”, apresentado pelo Professor titular de Engenharia de Software da UFPE – Universidade Federal de Pernambuco e Cientista-chefe do CESAR – Centro de Estudos e Sistemas Avançados do Recife, Silvio Meira. Data 22/05/2008 em Belo Horizonte.
[9] RIFKINS, Jeremy. A era do acesso: transição dos mercados convencionais para networks e o nascimento de uma nova economia. São Paulo: Makron Books, 2001.
isto e uma treta mentirosos =D
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